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Bergamin & Gomide apresenta individual de Glauco Rodrigues: Acontece que somos canibais

01/02/2021 - Por ArtRio

Bergamin & Gomide apresenta sua primeira exposição do ano: Acontece que somos canibais, individual do artista Glauco Rodrigues (1929-2004). Entre os dias 04 de fevereiro a 13 de março de 2021, a exposição apresenta cerca de 30 obras que compreendem o período de 1969 a 2002, e conta ainda com texto crítico da historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, que destaca o contexto no qual se dá a exposição: “momento em que grassa o obscurantismo; em que temos sido lesados por uma crise que é política, econômica, moral, cultural e da saúde; em que vamos sendo invadidos por uma patriotada fácil e que sequestrou os nossos símbolos nacionais; em que tomamos um golpe a cada dia, nada como o humor satírico e crítico do artista gaúcho que, com suas cores fortes, seus desenhos em série, seu fundo branco infinito fez política a partir da arte. Política com muita arte.”

Glauco Rodrigues nasceu em Bagé, no Rio Grande do Sul, e começou como autodidata, produzindo obras marcadas pela abstração. Em 1960, participou do IX Salão Nacional de Arte Moderna e obteve um prêmio que lhe possibilitou viajar para a Europa. Participou da Bienal de Paris e, por convite da embaixada brasileira, morou em Roma entre os anos de 1962 e 1965, quando teve oportunidade de participar da XXXII Bienal de Veneza.

Seu percurso foi semelhante ao dos artistas modernistas, como Tarsila do Amaral, mas foi através da Arte Pop, que iniciou sua volta à figura, ao mesmo tempo em que, antropofagicamente, contou a sua história visual brasileira. De volta ao Brasil, Glauco passou a rever, de maneira iconoclasta, obras brasileiras clássicas como O Derrubador Brasileiro – D’après Pedro Américo, Victor Meirelles, Almeida Júnior e Pedro Moraes (1970), pintura que revela, como escreve Lilia Moritz Schwarcz, “as faces e expectativas de um país que se quer ver como desbravador e que gosta de se representar na base da (falsa) tolerância e de um suposto (e ilusório) pacifismo.”

O processo antropofágico levou Glauco a traduzir e deglutir o Brasil a partir de suas pinturas, muitas vezes acompanhadas de frases críticas – aspecto marcante em seu conjunto da obra – na qual também impregna uma espécie de carnavalização da cultura brasileira, com o uso de cores tropicais como o verde, amarelo e azul, que carregam humor combinados à crítica social. Esse é o caso da obra que empresta o título desta exposição, Porém, Acontece, Que Somos Canibais! [da série Visão da Terra – A Lenda do Coati-Puru] (1977), na imagem.

A relevância e atemporalidade da obra de Glauco Rodrigues, em que desfilam temas e mitos da vida brasileira, é narrada por Frederico Morais como uma obra em que é “Tudo canibalizado, deglutido e em seguida expelido na forma de uma explosão colorida, de um delírio visual”, e torna-se ainda mais pertinente no atual contexto político-social brasileiro.

Em seu texto crítico, Lilia Moritz Schwarcz reitera: “nesses tempos tão distópicos em que vivemos, quando a realidade parece exagerada e surreal (mas infelizmente não é), quando a política vira espetáculo fácil de autoritarismo, onde o verde e amarelo foram sequestrados de uma parte importante da população, a ironia sutil de Glauco talvez esteja finalmente em casa e diga respeito aos tempos do agora. Esse tempo em compasso de espera e que se apresenta na forma de um presente sem futuro.”

E finaliza: “O verde e amarelo somos nós! Tudo em sua obra é arte antropofágica, no sentido dado pelos povos ameríndios que fazem da comida um ritual de troca e deglutição, sem geografia certa ou tempo delimitado. Tudo deve ser digerido e vomitado, numa celebração da cultura brasileira que devora aos “outros”, mas também a si própria e a “nós” mesmos. Isso porque, “acontece que somos canibais” – verdes e amarelos, e tropicais.”


Glauco Rodrigues: Acontece que somos canibais
04 de fevereiro a 13 de março de 2021
Bergamin & Gomide
Rua Oscar Freire, 379, Lj1, Jardins, SP

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