Galeria Lume | Arquiteturas da água, de Osvaldo Gaia
As paisagens amazônicas não se oferecem inteiras. Entre o peso da umidade e o reflexo do sol, o olhar tropeça. O campo de visão se desfaz em fragmentos, e é o ouvido que aprende primeiro. Na beira do rio, tudo vibra. Ecoando sentidos, o som do batedor que finca a estaca no fundo do rio, o ranger da madeira contra a corrente e o respiro do peixe sob a lama formam uma sequência entre infinitudes sensoriais. A visão é apenas uma entre muitas formas de escuta. É nessa paisagem de forças entrelaçadas que se inscreve o trabalho de Osvaldo Gaia.
Suas obras nascem da convivência com os mestres curralistas, artesãos e arquitetos da água que erguem engenhos de pesca guiados pela lua e pelo ritmo das marés. O curral é uma estrutura que seduz, uma inteligência de linhas e curvas que orienta o peixe, transformando a caça em convivência e expandindo a noção de soberania. Na construção, a madeira já foi cipó, galho, folha; cada corpo vegetal guarda o aprendizado de se curvar, resistir e seguir o fluxo.
Gaia herda essa sabedoria da ferramenta e a reelabora em linguagem escultórica. Trabalhando com madeira de demolição (canela-preta), linha e chumbo, o artista faz de cada obra uma extensão da técnica ribeirinha e indígena, não como reconstituição etnográfica, mas como pensamento sobre o modo de fazer, e como ativação de suas próprias memórias de infância.
Arquiteturas da água, de Osvaldo Gaia
Galeria Lume | R. Gumercindo Saraiva 54, Jd Europa – São Paulo
Abertura: 23 de outubro, das 18h às 21h
De 15 de março a 26 de abril de 2025.
Segunda a sexta, das 10h às 19h. Sábado, das 11h às 15h.
Entrada gratuita.