Quadra | Abertura, individual de Arorá


No trabalho de Arorá, imagem e corpo se confundem em camadas sucessivas de pigmento, cera e óleo. A superfície da tela se torna acúmulo e espessura, onde figuras latentes — paisagens metamórficas, atmosferas cósmicas, resíduos do natural — emergem e desaparecem sob camadas sobrepostas. Trata-se de uma pintura que se faz no tempo e contra ele, num gesto paciente de deposição e velamento.
Mais do que encobrir, Arorá funda: sua prática materializa um “suporte como fundamento”, onde cada estrato pictórico funciona como corpo e memória, gesto e história. Como afirma Mariana Leme, sua operação reverte a lógica do pentimento — não há arrependimento, mas acúmulo deliberado. O que está oculto não é erro: é chão. “Em outras palavras, não se trata de uma imagem desencarnada, como a pintura é frequentemente percebida, mas ela se constitui enquanto acúmulo de materiais de diversas naturezas, depositados lenta e meticulosamente”.
Na pesquisa escultórica, fios de prata desenham o ar e abrem espaço para outras presenças. Estruturas suspensas ou pousadas que parecem capturar o movimento do vento, a respiração ou o silêncio como matéria ativa. Em algumas obras, o uso de pérolas adiciona camadas de tempo e narratividade, sugerindo que mesmo a leveza carrega reações, defesas e memórias do corpo. Abertura é também um gesto que a artista convida o público a respirar com o que escapa à fixidez da imagem: o desafio à ideia de superfície enquanto aparência.
Abertura, individual de Arorá
Quadra | Rua Barão de Tatuí 521 – São Paulo
De 26 de abril a 14 de junho
Terça a sexta, das 10h – 19h, sábado, das 11h – 16h
Entrada gratuita