A exposição busca reler a produção de Aquino a partir de um conjunto de obras concebidas em um
momento-chave da história cultural e política do país: o auge da repressão da ditadura civil-militar.
Ainda muito jovem, aos vinte anos, o artista participou da histórica mostra Opinião 65, no MAM
Rio, um marco na cena artística nacional. Inserido num contexto de simultânea expansão estética
e fechamento institucional, Aquino fez da arte um campo de embate: “Era nesse cenário que sua
perspectiva estética buscou se ajustar rapidamente ao momento político”, escreve Fred Coelho.

Nos anos 1970, vivendo em Milão entre 1970 e 1972, Aquino aprofundou sua pesquisa com novas
linguagens, tornando-se um dos pioneiros da arte postal e da videoarte no Brasil. Criou
performances, experimentou com técnicas de xerox, carimbos, livros de artista e fundou sua
própria “empresa ficcional” Angelo de Aquino Self Promotion Inc., em uma crítica irônica ao
mercado da arte e à figura do artista como marca. De volta ao Brasil, manteve essa postura
provocadora e crítica, e sua obra passou a tensionar, com acuidade, o legado do concretismo
nacional com novas formas de expressão subjetiva e coletiva.

A mostra apresenta trabalhos que revelam dois caminhos adotados pelo artista em face da
repressão: o apagamento do “eu” autoral e o exílio como forma de recriação subjetiva. Em séries
como Transformações, Aquino apaga o próprio rosto por meio de camadas fotográficas. Em
Project for a Change of Identity, torna-se Emanuelle, embaralhando identidade e gênero. Já em
suas pinturas gráficas do final da década de 1970, títulos como Eu e um mistério, Eu, uma ilusão
ou Eu através de um vazio operam uma oscilação entre o apagamento e a reinvenção de si como
mancha, traço, cor.

Não é verdade que eu não exista, de Angelo de Aquino
Galeria Athena | Rua Estácio Coimbra 50, Botafogo, Rio de Janeiro
Abertura: quinta, 3 de julho de 2025 , das 19h às 22h
Horário: de terça a sexta: 11h às 19h | Sábado: 12h às 17h
Entrada gratuita